É certo dizer que o estereótipo maior do “maluco beleza ” que rotula a vida e a obra de Raulzito tem um fundo de verdade . Todavia , os chavões servem para ofuscar certas facetas sensacionais de um artista que se autodeclarou “metamorfose ambulante ”. Multifacetado, o artista agiu e penso u livremente , criando e auto-afirmando seus próprios valores , sem jamais se fixar em alguma certeza absoluta . Raul Seixas viveu como um indivíduo descentrado, inconstante , efêmero e transitório , com suas rupturas e descontinuidades . A arte de Raul Seixas, nascida de experiências que brotam da concreta vida cotidiana , é impregnada de ressonância e profundidade místicas que a impelem para além de seu tempo e lugar .
O enaltecimento da metamorfose ambulante , isto é, do indivíduo fragmentado, descentrado, disposto a afirmar sua singularidade contra o rigor de todas as opressões , nos leva ao lado B de Raul Seixas. Em sua discografia, os irracionalismos, as antíteses e os antagonismos extremados ocupam o centro da cena . Ele mistura , em sua obra , diferentes ritmos e estilos musicais, poesia e música , filosofia e astrologia , ocultismo e religião , crítica social e desbunde, tudo regado ao uso de drogas lícitas e ilícitas.
A linguagem de Raul Seixas, imbuída de desbunde, do espírito rebelde , lúdico e libertino dos inconformados de seu tempo , que preferiram a expressão à construção , é formada por um vocabulário polissêmico, simbólico, repleto de figuras de linguagem , metáforas , alegorias , metonímias , regionalismos nordestinos, gírias urbanas e prosopopéias . Inseridas na indústria cultural, suas canções transmitem pensamentos sob forma figurada , disfarçada, muitas vezes ambígua , exigindo que o ouvinte interprete as idéias embutidas figurativamente em seus versos . Com essas características , suas músicas muitas vezes são recusadas por intelectuais e ativistas engajados, enquanto nem sempre são compreensíveis para as massas incultas. E alguns não conhecem o perfil intelectual de Raul Seixas, que foi um homem erudito , leitor voraz dos clássicos da filosofia e da literatura universal .
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No Brasil, o mais ilustre seguidor do ocultista inglês foi Raul Seixas. Embora o cantor nunca tenha comentado publicamente com clareza e detalhes suas experiências em sociedades iniciáticas, as canções explicitam que ele lançou sua Sociedade Alternativa a partir dos ensinamentos de Crowley. Uma das referências mais claras ao mago , na discografia de Raul, é a canção “A Lei ”, do LP A Pedra do Gênesis (SEIXAS, 1988), tradução do texto Líber Oz, de Crowley, que anuncia a Lei de Thelema.
Thelema é uma palavra grega que significa vontade . Para os thelemitas (seguidores da Lei de Thelema, dentre os quais podemos incluir Raulzito), a sua máxima , longe de ser apenas um bordão , consiste na fórmula mágica do Novo Aeon, a nova era que os jovens tentavam materializar em comunidades alternativas e pela qual tanto ansiavam.
Na década de 1970, a formação de grupos e ordens iniciáticas, esotéricas, era uma forma comum de reunir pessoas com idéias transgressoras. Nesse contexto , Raul Seixas se apropriou da idéia do Novo Aeon apresentada por Aleister Crowley para formular o seu próprio projeto de uma Sociedade Alternativa .
Raul Seixas, coerente com a fórmula do Novo Aeon, foi um poeta da liberdade irrestrita e da vontade como máxima soberana , além de defensor do uso de sexo e drogas para fins mágicos . Foi partidário de um individualismo extremista , apregoando a autonomia individual na busca da liberdade e na satisfação das inclinações naturais , em detrimento da hegemonia da coletividade massificada e despersonalizada. Sua arte condena todas as formas de poder e autoridade que restrinjam a soberania e a liberdade absolutas do indivíduo .
A Lei de Thelema emerge da crença na inutilidade das lutas no campo político-institucional, pois redundariam sempre em alguma forma de opressão ao indivíduo . A transformação social viável para resolver os problemas do homem dentro da sociedade só poderia ser alcançada na medida em que cada um pensasse e agisse por si próprio , emergindo das massas , suprimindo todas as formas de autoridade estabelecidas, tendo em vista a realização dos desejos individuais .
Leia
Vitor Cei Santos
“Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo ”
224 páginas
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MEU DEUS! Cara você é 1000 terminei de ler mais já achei meu trabalho, super objetivo mas detalhadamente sútil! Ta de PARABÉNS!!!
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