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domingo, 17 de janeiro de 2010

Ao som de harpas egípcias Raulzito convidou a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista

Em 1971, uma aventura fonográfica custa o emprego daquele que seria um dos maiores ícones do rock brasileiro: Raul Seixas. Com o sucesso ainda por vir, ele trabalhava como produtor musical da CBS. Compôs quase 80 canções para artistas consagrados como Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Diana e Trio Ternura, além de produzi-los. No entanto, sua cabeça já sintonizava outra estação. Religiões orientais e filosofia eram algumas de suas leituras. As músicas de Elvis haviam aberto sua percepção musical, bem como os experimentalismos dos Beatles. Logo fica evidente que os discos comportados da CBS não o satisfaziam. Queria um álbum diferente, uma ópera-rock “que resumisse o caos bonitinho da época”. Aproveitando a viagem do diretor da gravadora, reúne a sambista Miriam Batucada, o polivalente Edy Star e o compositor Sérgio Sampaio, e inicia as gravações. A extravagância começa pelo título: A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez. A um só tempo, nome do conjunto e da obra.
O disco é indefinível. Baião e soul music; rock e samba. Vários elementos incomuns se amalgamam. O grupo compõe 30 canções. Apenas oito escapam da censura. Na abertura, um locutor de circo anuncia: “Respeitável público, a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista pede licença para vos apresentar o maior espetáculo da Terra.”
Faixa por faixa, o quarteto desafia os padrões. Em suposta homenagem aos boêmios da velha guarda, entoa um “bolerão bem açougueiro”, como definiria Raul anos depois.
A desconcertante mistura de guitarra roqueira com frevo ganha refrão atemporal e vira Eu vou botar pra ferver no carnaval que passou.
A crítica à classe média fica por conta da letra de Doutor Pacheco, o “herói dos dias úteis”. Nessa, Raul toca todos os instrumentos, menos a bateria. Para dar um toque especial, encomenda uma harpa egípcia.
O encarregado dos instrumentos ainda pergunta: “Não serve paraguaia?” Nada feito. Tem de mandar trazer a harpa de São Paulo. Ela desce do caminhão para apenas um acorde final, depois de 300 compassos.
Voltando de viagem, o diretor vê o disco em sua mesa, junto ao relatório de custos. Imediatamente convoca Raulzito. No sermão, palavras que revelam a incompatibilidade do artista com a função: “Isso aqui é fábrica de vender ilusões, meu filho.” Mal sabe que, ao demiti-lo, liberta-o para alçar vôos mais longos. Anos depois, Raul relembra: “Foi a primeira vez que fiz algo para ser consumido e do qual me senti paranoicamente orgulhoso e feliz. Aprendi a fazer música fácil, intuitiva e bonitinha, que leva direitinho o que a gente quer dizer.”
Em tempo: o LP que o diretor desprezou hoje é raridade, vendido em lojas de discos por até 340 reais.

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SAIBA MAIS

Vivendo a Sociedade Alternativa: Raul Seixas no panorama da contracultura jovem, tese de doutorado de Luiz Alberto de Lima Boscato (2006). 
Esta tese trata da Contracultura: conjunto de movimentos de rebelião juvenil das décadas de 1960 e 1970, mas cujas raízes são anteriores, tendo como eixo temático a obra de Raul Seixas, no que se refere ao projeto de construção de uma Sociedade Alternativa. A Sociedade Alternativa é considerada pelo autor como o enorme leque de lutas libertárias de toda uma geração jovem que ousou discordar das "verdades prontas e acabadas" que nos são oferecidas pelo mundo capitalista.

A Tese completa pode ser baixada no link abaixo:

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