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sábado, 3 de abril de 2010

O Mito da Caverna

Extraído de “A República” de Platão . 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291

RAÚL SEIXAS – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à 
ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em 
morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a 
infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e
 só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto.
 Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos 
imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os 
tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos
 bonecos maravilhosos que lhes exibem.


PEDRO – Imagino tudo isso.


RAÚL SEIXAS – Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos 
que se 
elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou
 madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam 
em silêncio.


PEDRO – Similar quadro e não menos singulares cativos!

RAÚL SEIXAS – Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver
 de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do 
fogo, na parede que lhes fica fronteira?

PEDRO – Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.

RAÚL SEIXAS – E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as
 sombras?


PEDRO – Não.

RAÚL SEIXAS – Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das
 sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?

PEDRO – Sem dúvida.


RAÚL SEIXAS – E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam,
 não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?


PEDRO – Claro que sim.


RAÚL SEIXAS – Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das
 figuras que desfilaram.


PEDRO – Necessariamente.


RAÚL SEIXAS - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via.
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o
que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?

PEDRO - Sem dúvida nenhuma.

RAÚL SEIXAS - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?

PEDRO - Certamente.

RAÚL SEIXAS - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?

PEDRO - A princípio nada veria.

RAÚL SEIXAS – Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior.
 Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros 
seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas,
 contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.

PEDRO – Não há dúvida.
 
RAÚL SEIXAS – Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol,
 primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio 
lugar, tal qual é.

PEDRO – Fora de dúvida.


RAÚL SEIXAS – Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que
 produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa 
de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.


PEDRO – É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.


RAÚL SEIXAS – Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de 
escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança 
sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?


PEDRO – Evidentemente.


RAÚL SEIXAS – Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e
 mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão
 dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em 
lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no
 cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de 
Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras 
ilusões e viver a vida que antes vivia?

PEDRO – Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a
 viver da maneira antiga.

RAÚL SEIXAS – Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a 
caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à 
obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?

PEDRO – Certamente.

RAÚL SEIXAS – Se, enquanto tivesse a vista confusa — porque bastante tempo se passaria 
antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade — tivesse ele de dar opinião sobre as
 sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em 
cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior,
 cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o 
mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?

PEDRO – Por certo que o fariam.


RAÚL SEIXAS – Pois agora, meu caro PEDRO é só aplicar com toda a exatidão esta 
imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo 
visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a 
contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que 
o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é
 verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo 
inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que,
 conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da
 luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e
 sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos
 negócios particulares e públicos.

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