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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Trechos inéditos da conversa de Edy Star com o repórter Chico Castro

Por Reinaldo Pinho,

Fotos: Thiago Teixeira | Ag. A TARDE

Volta ao Brasil

Definitivamente é uma palavra muito forte. Eu voltei ao Brasil para ficar. E ver até onde vai dar. Se não der para ficar, aí eu tenho um plano B. O plano B é largar tudo para morar no interior não sei-da-onde e desaparecer do meio artístico. Desaparecer. Eu tô há muitos anos querendo voltar. Não é uma coisa que eu decidi ontem ou no mês passado. Há cinco ou seis anos, eu sempre disse que ia voltar. Passei oito anos lá ilegal, sem documentação, trabalhando, mas nunca me esforçei para tirar os papéis porque nunca achei que ia morar definitivamente na Europa. Mas agora que eu tenho tudo… primeiro que a Europa já não é a mesma de 18 anos atrás. Não. Decaiu muito, muito mesmo. A Espanha já não é a mesma e essa coisa, a tal famosa crise, o local aonde eu trabalho caiu muito a frequência. Mas não só lá, caiu a frequência em tudo que é lugar. A Espanha caiu muito. Temos lá 23% de desempregados. Eu vejo muito brasileiro passando fome, a maioria tentanto voltar – ou já voltaram.
 
Planos com os Vira-Latas de Luxo

Tenho uma série de shows já, no dia 8 de julho eu já tenho show em São Paulo. Planos em Salvador, eu tenho. Conheci umas bandas e escolhi uma de um cara, um compositor fantástico, chama-se Marcelo Letal. A banda é a Vira-Latas de Luxo. A banda é muito boa, o cara é muito bom compositor. Estou apaixonado pelas músicas dele. É daqui de Salvador, da Cidade Baixa. Ouvi outras bandas (tom irônico), essas bandas que são boas, maravilhosas, divinas, fantásticas e se apresentaram com fulano e sicrano. Mas esta banda, que não apresentou um currículo assim “divino”, me conquistou. Já fizeram shows em festivais, no Pelourinho etc e são muito bons. Vou gravar músicas dele. Estou preparando um trabalho com eles em Salvador. Pelo menos, espero fazer isso em breve.
 
Rock local

Não não quero citar nome de outras bandas, para todas eu torço o nariz, eu acho todo mundo muito metido a bom. Todos são bons, ótimos. Fez show com fulano, então prefiro não citar. Prefiro citar o nome do bom que eu achei e não dos ruins, por que aí… eu crio um ranço né?
 
Márcio Meirelles

Não digo que sou amigo íntimo, mas sou amigo de Márcio. Aplaudi Márcio há muitos anos atrás, quando ele era diretor, na montagem de MacBeth, e era maravilhoso. Ele sempre foi muito bom nisso. É uma pessoa que gosto muito, mas não posso falar da gestão dele por que não vivo aqui. Gostaria de entrar aí com um projeto em algum edital, mas aí vem o pessoal e me diz: “Por que você vai entrar com um edital agora em 2010, se ainda não pagaram o edital 2008?” Entende? Então, eu fico assim, me meto com edital, venho de São Paulo pra cá, armo uma coisa e depois não recebo o dinheiro. Aí é um pouco forte, né? Tem um erro aí. Mas é isso mesmo. Tá tudo ótimo, a Bahia é linda, maravilhosa, sensacional.
 
Política de editais

Em parte, vou gravar via edital, mas não vou ficar esperando. Vou tirar do próprio bolso. Quer dizer, eu puder fazer, eu faço. Agora, claro que é arcar com… como posso dizer? Se você faz disco do próprio bolso, os amigos ajuadm, mas não tem só Salvador, Bahia, né? Você tem São Paulo, Petrobras etc… Sem tantos problemas quanto a Secretaria de Cultura da Bahia. Se você for ler o edital, é tudo muito bom, mas quando chega na parte de prestação de contas, é quase impossível cobrir as metas que eles pedem. Você tem que ter o canhoto, a nota fiscal em nome do cara que propôs. Se você tem um secretário para fazer isso não vale, por que tem que ser em nome do proponente e uma série de outras coisinhas que dificultam.
 
Carnaval

Meu filho, eu acho que, aqui no Brasil é como no mundo, veja só: por que tem tanto camelô na Rua Chile? Por que tem gente para comprar! Aí você pergunta: “por que tudo é tão caro no Carnaval”? Por que tem gente pra comprar! E a cada ano será mais caro, terá mais camarotes, claro, por que tem gente pra fazer e gente pra pagar para entrar. Então, o Carnaval na Bahia é uma grande indústria que enriquece alguns e os pobres, maravilhosos, como macacos levantando a perninha e botando para lá e tá tudo muito bem. Eu vou deixar de aplaudir eles? Não! Os artistas estão certíssimos! Eu acho que eles deviam cobrar mais caro, deviam dobrar o cachê a cada ano! O povo adora! Ô, queria eu! Mas não é? O sonho de todo mundo é ser rico! Eu vou dizer “não, não dou valor ao dinheiro”? Mentira! Eu dou valor ao dinheiro pra cacete! Queria eu estar bilionário com uma casa com dois estúdios de gravação. Como diria Ruy barbosa, “fora do sistema não há salvação”. É uma grande indústria do camarote, do abadá, do trio elétrico. E tá tudo muito bem. São mil pessoas que fazem o carnaval para 500 mil pularem em redor e pagarem, que brigam para comprar um abadá enquanto mil passam fome, comem x-tudo com refresco de limão para sair no Carnaval. Agora, isso não foi uma evolução. Foi uma regressaão em nome do dinheiro. Quantas vezes, saí com Moraes (Moreira), sem abadá, sem dinheiro e era tão bom. Agora isso se acabou. Hoje as pessoas saem no bloco pra dizer que saíram, pra ficar etc. Isso não é evolução.
 
Processo de Bell do Chiclete contra Nizan Guanaes

Como é? Se ele é careca, ele processou por que disseram que é careca? (pasmo) Três palavras para definir: PQP! Onde é que nós estamos, hein? Então, aqui, eu seria processado diariamente.
 
Pelourinho

Outro dia me perguntaram o que eu achei do Pelourinho. Eu acho isso aqui o melhor mostruário da Suvinil! Não é? Eu acho lindo! Olha só, eu quero minha casa daquela cor ali! Eu acho lindo pra tirar turista fotografia a cores. Agora, tecnicamente, existe aquilo? Não existe! É uma porcaria! O pior é que a Suvinil descobriu como ganhar dinheiro com isso… olha, deixa pra lá! Agora Olinda está sendo pintada desse jeito, (o Centro velho do) Maranhão está sendo pintado desse jeito, e assim vai. Então teremos futuramente todas as capitais do Brasil igual ao Pelourinho: uma casa verde, a outra rosa, amarelo, ocre.. eu acho maravilhoso. Mas que é um grande mostruário para as fábricas de tintas, isso é.
 
Pelourinho, Mestre Pastinha e a polêmica de Caetano Veloso

Quando li a crônica de Caetano, Vamos cuidar do Pelourinho… primeiro, vamos partir da premissa que o Pelourinho é um projeto falido. Eu me lembro, em 1969 ou 70, projetou-se revitalizar o Pelourinho. Aquilo seria o Saint Germain de Pres da Bahia. O bairro dos artistas, eles iriam morar lá. Aí tiraram a zona, tiraram Pastinha da casa dele, prometeram remodelar a casa, nunca mais devolveram a casa dele. Mestre Pastinha morreu de tristeza! Nunca mais levantou a cabeça e morreu de tristeza. E o Pelourinho se tornou o maior mercado de buginganagas da América Latina! Por que todas as lojinhas vendem a mesma coisa. Sou contra não, tá tudo lá (bate palmas). Tiraram os puteiros de lá pra fazer isso? E nennhum artista foi morar lá. Eu espero não ser processado por essa reportagem!

Cantoras de axé e “gay, não!”

Agora não falo das cantoras – se cantam mal ou não, elas tem seu público imenso e você não pode lutar contra a situação, ficar dizendo fulana canta mal, sicrano é careca! Eu espero que não digam que eu sou viado, por que aí eu processo! (risos) Se disserem que eu sou bicha, vou processar! Eu não sou bicha, eu sou bichíssima! Se disser que eu sou gay, piora, vou querer mais dinheiro ainda! O Brasil não tem gay, tem viado, bicha, baitola. Mas gay, não!



Teatro baiano

Estou fora da Bahia há uns vinte anos, então, quando venho aqui, leio o jornal um dia, vejo o que tem para ver. Algumas peças eu vou, e, graças a Deus, nas vezes em que estive aqui, fiz boas escolhas. Vi muitos bons espetáculos de teatro, como Vixe Maria Deus e o Diabo na Bahia, que achei fantástico. O trabalho dos atores, a direção, a cenografia, achei espetacular. Vi O Indignado, também gosto muito dele. O pessoal da Bofetada, que continua muito bom apesar de todos esses anos. Eles vão ficar 500 anos fazendo aquilo e são maravilhosos. Quando o espetáculo é feito com uma certa seriedade, fica bom, agora tem alguns que são invenção pura. Essa juventude inventa muito, né?
 
Miséria cultural e Rebolation

Querido, quando você me diz que a indústria da Bahia é o carnaval, o que você quer mais? Tomaram conta de tudo! Me diga o nome de um bom pintor na Bahia hoje? Não tem. Um bom gravurista? Não tem. O nome que você disser tem 50 anos ou mais. Em 64, Caetano e Chico tinham vinte, 22 anos. Hoje você não pega um artista bom. Está na moda, está na mídia, mas realmente bom, não tem. Eu não sei por que isso. Estamos tão sem educação, sem cultura, não é culpa do público, né? A gente tem um presidente analfabeto, então estudar pra que? Sem estudar podemos chegar a presidente! Hoje em dia as crianças levam celular pra sala de aula, ficam atendendo o telefone! Ahhh, me poupe! A internet e a falta de cultura contribuem para isso! A Bahia, que já viveu uma explosão de cultura nas artes aplásticas, nas artes cênicas, cinema… tudo era em Salvador! E não vou dizer que saiu daqui e foi pro Rio, SP, não! Quando foram pro Rio, todos os diretores resolveram fazer nouvelle vague, filme pra dentro, para eles mesmos. Ninguém ia assistir, mas todo mundo queria pegar o dinheiro da Embrafilme! Agora que descobriram que cinema é indústria, estão fazendo filme para as pessoas darem risada, rá rá, rá, esse filme é ótimo! E em Salvador, todo mundo tá trabalhando, fazendo teatro, música, cinema. Mas falta (soletra) qua-li-da-de. Ontem encontrei um cara na rua e ele queria que eu fosse dar uma palestra para mostrar a verdadeira música! Eu? Me respeite, meu filho! Eu posso te mostrar uma boa posição para transar! Tá doido! Vou ficar “olha minha gente, não façam e tal”! Vão me jogar pedra! Eu vou é pro Rebolation. O cara do Rebolation disse numa entrevista que a música dele não tem segunda intenção. Não tem segunda por que diz logo na primeira, né? E eu vou tirar o aplauso desse cara? Não! Tá todo mundo na rua dançando, até a Dilma, vou fazer o que? Ora, viva a Bahia!
 
Raul, Big Ben e Thildo

Toda vez que venho a Baha, visito o túmulo de Raul e também vou ver o Waldir Serrão. São dois grandes amigos meus. Fiquei contente de ver que o Waldir tá lúcido! Ele lembra de tudo! Gosto muito dele e fico sentido de ve-lo do jeito que está, sem poder fazer nada. Quem segura a barra de Waldir é o Thildo Gama.
 
Raulseixismo

Em São Paulo o raulseixismo é uma verdadeira religião. E o Sylvio Passos (fundador do fã-clube Raul Rock Club) cuida daquela coisa toda, sofre o diabo com as merdeiras (sic) de Raul. Tirando Kika e a filha, as outras são umas merdeiras com advogados que só querem achacar! (Pausa) Aí! Tira isso, senão vão me processar! (Risos). E o Sylvio tá sem dinehiro, teve até que tirar o portal do Raul do ar, por que ele nunca ganhou nada com seu trabalho em prol da memória de Raul.
Foto: Arquivo Pessoa

Sessão das Dez

Raul descobriu que se autopromovia contando histórias. “Olha, hoje não dormia a noite toda pensando em um disco voador que estava em frente a minha janela”. Mentira, roncou a noite toda. E ele ria com aquilo e apredendeu a tirar partido dessas besteiras. Eu e Sérgio (Sampai) nos afastamos dele por que era muita porralouquice. Ele se juntava com PC (Paulo Coelho) e inventava que se conheceram por que estavam na Barra da Tijuca quando baixou um disco voador. Aí olharam um pro outro: “você viu o que eu vi?” e ficaram amigos. Foi assim que se conheceram. Claro que não foi assim. (faz voz de mistério) “Este é Raul. Este é PC. Eu quero que se juntem para formar a maior música de rock do Brasil”. Raul era muito gozador, sempre foi! Quando acabou de gravar o Sessão, acabou a ironia na música dele, aquela esculhambação total. Pelo menos, naquele nível, ele nunca mais fez igual. E o disco foi pensado, ele queria fazer um disco-resposta ao Tropicália (Panis et Circensis), ao Mothers of Invention (do Frank Zappa)e o Sgt. Peppers, que ele adorava. Ele queria fazer uma versão disso. Vamos falar disso, daquilo, no meio botamos uma vinhetas. Era ele, eu e Sérgio Sampaio naquela sala, dando risada, escrevendo um monte de putaria no papel que depois jogava fora, por que tinha acensura. Foi muito fácil fazer, Sérgio tinha uma facilidade incrível para compor e Raul também, com toda sua experiência de produtor da CBS. Eu vinha com um (cantarola) lá lá rá, lá lá, e ele desenvolvia e a música tava pronta. Aí a gente pegava as letras e mandava para a censura. Então muitas faixas foram reprovadas. Todas as minhas foram reprovadas, vinha com aquele xis vermelho: “indutivas ao uso de álcool” e tal. Mas as músicas não queriam dizer absolutamente nada. Depois, procuramos que mulher ia entrar. Pensou-se em Lena Rios, é uma cnatora que hoje vive no Piauí. Não deu por que já estava com Torquato Neto. Diana também já estava comprometida com o iêiêiê romântico. Aí apareceu Miriam Batucada, que era maravilhosa e ainda não era conhecida. O disco foi lançado, nós fizemos divulgação nas redações dos jornais, demos entrevista. 15 dias depois aconteceu o famoso “What’s this” da matriz e tirou-se o disco de circulação. A censura foi da própria gravadora. O disco saiu, as músicas liberadas pela censura e todas foram foram gravadas.
 

Sweet Edy

O Sweet Edy eu tive uma proposta de relançamento em vinil. Não vamos lançar em CD. Eu quero em vinil, com tiragem pequena. Vamos colocar mais duas faixas não lançadas, como bônus. E meu próximo álbum será uma continuaçao do Sweet Edy.

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