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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Raul & a Comida

Ao Carluz
Muito se tem escrito, dito, falado e filmado sobre Raul Seixas.
Eu, daqui do meu canto, mero fã, não desejo me aprofundar em significados e significantes. Deixo esta missão para as teses de mestrado e doutorado de historiadores, sociólogos e antropólogos.
E por falar em antropologia, remeto o meu texto à antropofagia. Que afinal, é o que fazemos com a obra de Raul - comemos, digerimos, às vezes vomitamos e na grande maioria das vezes, apenas cagamos. Cagamos e andamos.
Pois atendendo a um pedido Insano, resolvi falar sobre temas...digamos assim...mais insólitos - Raul & a Comida.
Isso mesmo , a comida, tema tão importante quanto relegado em nossa escrita e na vida de nossos ídolos.
O primeiro raulseixista que me cahamou a atenção para este lance da beleza do rango nosso de cada dia, foi o amigo Carlos Bigode.
O Carluz, muitas vezes ali pelas 12 ou 19h, começa a postar em redes sociais, fotos dos pratos que está fazendo.
Outro dia, tive o prazer de conhecer sua casa e fiquei sabendo dele:
"Bicho, lá pelas 19h, eu vou fazendo a janta e ligo pra minha mina, pra ver se ela está muito longe, pra comida não esfriar..."
Existe prova maior de amor?
Mas voltando ao estômago raulseixista, nunca tive o prazer de me sentar ao lado de Raul em uma mesa. Prazer que nosso amigo, Sylvio Passos, teve.
Sua primeira refeição na casa de Raul, foi macarrão, servido pelo próprio, mas com um detalhe pitoresco, com as mãos:
"Toma, come aí!"
E o Seixas era forte em tudo, em atitudes, nas músicas, bebidas, drogas e por que não? Na comida.
Sempre acompanhei seus relatos gastronômicos, comida forte.
E porque isto? Porque precisava sentir o amargor em sua boca, em sua lingua. Precisava com absoluta precisão que algo lhe incomodasse. Eterna mosca. Éter na mosca.
Tinha especial predileção por comidas nordestinas, não renegando suas origens. Frequentava em seus últimos dias inglórios de vida o "Rainha do Norte" - misto de restaurante, bar e mercearia de produtos nordestinos,
Lembro inclusive de um depoimento da Kika, penúltima mulher, sobre a sua rotina matinal:
"Ele acorda, lá pelas 10, vai para o bar, come lingua, volta, descansa mais um pouco e toma o café da manhã tradicional."
Não se atenham exatamente ao que está escrito, não fui atrás dos originais, só da memória mesmo.
E também me lembro muito bem, da fase paulista do Raul, os jornais e revistas, por mais de uma vez, destacavam :
"Raul passa seus dias tranquilo, preparando um churrasco para os amigos."
Sinceramente, não consigo visualizar com muita nitidez esta imagem.
Mas o autor de "Peixuxa" tinha o seu prato predileto - peixes, que sempre estiveram presentes em sua vida.
Na gravação de "Há 10.00 anos atrás" , em 1976, ele esculhambou com todo mundo, comendo peixinho frito, chupando os dedos, rindo e cheirando à toa:
"Raul Seixas, comendo peixinho frito, pode ser que eu morra amanhã..."
Depois, lá pelos anos 80 em Salvador, ele deu uma entrevista hilária à alguns jovens chatíssimos, enquanto degustava uma moqueca baiana - pelo menos eu acho que era isto.
Sem contar um bar em Osasco, lá pros lados de Quitaúna, onde tive a pachorra de ir, mas o tal do sushi que Raul tanto apreciava, não era mais servido.
Já no fim dos anos 80, ocaso de sua vida, dividia uma sopinha de letras , com o parceiro Marcelo Nova:
"Pô Raul, todo mundo pensando que a gente tá fazendo um monte de loucuras e nós aqui, comendo sopinha da Xuxa, véio..."
Logo da Xuxa, que Raul tanto meteu pau em seus tempos mais ranzinzas.
Mas no último texto que escreveu, um dia antes de sua morte, declarou enquanto preparava uma de suas últimas refeições:
"20 de Agosto de 1989 -


A coisa mais gostosa que tem é falar alto sem ninguém pra me ouvir exceto eu mesmo. A minha voz ecoando nos aires da minha solidão enorme. Eu sei que amanhã (dia de show) vou rir do que escrevi. É que a vida é uma coleção de momentos.

Vou esquentar meu peixe, ver TV, pois TV tem som e imagem. Agora!! Estou com a TV ligada que me anuncia um filme: Promessa de Sangue. Sofrendo uma crise de solidão. É horrível. Eu coloco um disco de New Orleans orquestrado e sento no fogão à espera da panela esquentar e canto À Beira do Pantanal (do fogão). "
Reinaldo Pinheiro Pinho

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