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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Raul & a Morte


Defunto não se comunica, muito menos se instrumbica.

Mas Raul conseguiu de certa forma, falar da morte durante toda a sua vida.

E por que essa obsessão de nosso herói? Porque sabia que sua vida seria efêmera? aposto o meu "Let Me Sing" que sim...

Raul trabalhou a sua vida ao contrário de nós, pobres mortais, ao invés de garantir muitos anos de vida, fez uma espécie de caminho inverso, sabia que partiria cedo, então tinha urgência em tudo:

"E bebi da vida, como bebe um marinheiro de partida"¹

E como bebeu...bebeu sabendo que esse seria o caminho mais rápido para a sua morte.

Ele devia sentir um vazio muito profundo, e a bebida de alguma forma, preenchia esse buraco negro ou... de uma forma mais simplista, bebia igual a mim, porque gostava mesmo, era um biriteiro, um cachaceiro, ou como ele mesmo se definiu uma vez - um cara doente, um alcoólatra. Acho que ficava mais fácil de se aceitar desta maneira.

Conhecia muito de religiões, engolia tudo que lia.

Esse vazio existencial, era enganosamente preenchido de álcool, drogas, conhecimento e por que não? De amor.

Ele sempre procurou o fim seja através de vodkas, cocaína, cachaça, maconha, cerveja, cigarro, música...

Mas esse vazio era raso, largo, profundo...nele Raul engolia também todos os seus sentimentos, o desgosto por não ser compreendido, por não ouvir suas músicas tocando nas rádios, por não ser convidado a gravar novos discos ou programas de TV.

Claro que a maior culpa disso tudo era dele, do próprio Raul que sempre cultivou uma fama de mal profissional, inconsequente, furão.

E tudo isso para ele era assustador, e como preencher todo essa solidão, esse vazio? Tome mais bebida, e engole mágoa, comprimidos, rancor, e isso tudo se somatizando e perde pâncreas, vem a diabetes, as indesejáveis injeções a falta delas...a morte.

Em conversa com sua última secretária - Dalva, ela me contou as últimas noites de Raul.

Era um sábado, Dalva havia realizado seu trabalho e disse a Raul:

"Amanhã, venho para aplicar a insulina, fazer o seu café..."

Raul protestou:

"Não Dalvinha, vai cuidar da sua casa, dos seus filhos, do seu marido, pode deixar que eu me viro."

Com aperto no coração, Dalva aceitou, mesmo porque não era nada fácil conviver com um mito.

O que se seguiu todo mundo mais ou menos sabe, Raul bebeu vodka a noite toda, não tomou a insulina, pois uma fita VHS de "Elvis no Haway" e foi encontrado morto na manhã seguinte, pela mesma Dalva, que acreditem...amava este homem.

Bem...pelo menos esta é a versão oficial, e quem sou eu , para desmentí-la...

E como sempre responde o Sylvio aos muitos que lhe perguntam:

- Mas afinal, do que Raul morreu?

- De tédio meu amigo, de tédio...

Reinaldo Pinheiro Pinho

¹- Chico Buarque

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