Raúl Seixas é o pai do Blog! Foi ele mesmo que me deu o toque! Nesse blog há de ser tudo da lei. Viva! Viva! Viva a Sociedade Alternativa!
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Vocêjá deve conhecer o lado A do cantor e compositor Raul Seixas. O estereótipocriadoemtorno da figura do baianogiraemtorno de chavõescomomalucobeleza, doidão, anarquista, drogado e afins. Reconhecido comoum dos pioneiros da contracultura no Brasil, ele integrou a turma do desbunde, aquela galeraque escutava rock, lia os poetas beat, fazia filmesem Super-8, não cortava os cabelos e preferia fumarmaconha a pegaremarmas. Contra a violência da ditaduramilitar, curtição e ações pacíficas.
É certodizerque o estereótipomaior do “malucobeleza” que rotula a vida e a obra de Raulzito tem umfundo de verdade. Todavia, os chavões servem paraofuscarcertasfacetassensacionais de umartistaque se autodeclarou “metamorfoseambulante”. Multifacetado, o artistaagiu e pensou livremente, criando e auto-afirmando seusprópriosvalores, semjamais se fixarem alguma certezaabsoluta. Raul Seixas viveu comoumindivíduo descentrado, inconstante, efêmero e transitório, comsuasrupturas e descontinuidades. A arte de Raul Seixas,nascida de experiênciasque brotam da concretavidacotidiana, é impregnada de ressonância e profundidademísticasque a impelem paraalém de seutempo e lugar.
O enaltecimento da metamorfoseambulante, isto é, do indivíduo fragmentado, descentrado, disposto a afirmarsua singularidade contra o rigor de todas as opressões, nosleva ao lado B de Raul Seixas. Emsua discografia, os irracionalismos, as antíteses e os antagonismos extremados ocupam o centro da cena. Elemistura, emsuaobra, diferentesritmos e estilos musicais, poesia e música, filosofia e astrologia, ocultismo e religião, críticasocial e desbunde, tudo regado ao uso dedrogaslícitas e ilícitas.
A linguagem de Raul Seixas, imbuída de desbunde, do espíritorebelde, lúdico e libertino dos inconformados de seutempo, que preferiram a expressão à construção, é formada porumvocabulário polissêmico, simbólico, repleto de figuras de linguagem, metáforas, alegorias, metonímias, regionalismos nordestinos, gírias urbanas e prosopopéias. Inseridas na indústria cultural, suascanções transmitem pensamentossobformafigurada, disfarçada, muitas vezesambígua, exigindo que o ouvinte interprete as idéias embutidas figurativamente emseusversos. Com essas características, suasmúsicas muitas vezessão recusadas porintelectuais e ativistas engajados, enquantonemsempresão compreensíveis para as massas incultas. E alguns não conhecem o perfilintelectual de Raul Seixas, que foi umhomemerudito, leitorvoraz dos clássicos da filosofia e da literaturauniversal.
O escritor e filósofo Raul Seixas eliminou as fronteirasentre as culturaspopular, erudita e de massa. Emsuaobra encontramos referências implícitas ou explícitas a diversosautoresbrasileirosouestrangeiros: Elvis Presley, Bo Diddley, Beatles, Bob Dylan, Jerry Lee Lewis, Luiz Gonzaga, Friedrich Netzsche, Pierre-JosephProudhon, Aleister Crowley,dentremuitosoutros. Esteúltimo, atualmentepoucoconhecidopelograndepúblico, foi ummago, poeta e escritoringlêsque despertou muitointeresseentreartistasnosanos 1960 e 1970, tornando-se guru da contracultura e do rock.
Exemplar é a capa do álbumSgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band (BEATLES, 1967), criação do artista Peter Blake, que reúne imagens de 62 pessoas a quem os Beatles admiravam. Podemos ver o rosto de Aleister Crowley (segundo, da esquerdaparadireita) na linha de cima, entre o guruhindu Swami Sri Yukteswar Giri e a atrizamericana Mae West.
Outrosastros do rockcompatriotas do magotambém prestaram suashomenagens: Jimmy Page, guitarrista do Led Zepellin, teria comprado a Boleskine House, refúgio de Crowley na Escócia, às margens do lago Ness, enquanto o metaleiro Ozzy Osbourne compôs a música “Mr. Crowley” emsuahomenagem.
No Brasil, o maisilustreseguidor do ocultista inglês foi Raul Seixas. Embora o cantornunca tenha comentado publicamente comclareza e detalhessuasexperiênciasemsociedades iniciáticas, as canções explicitam queele lançou suaSociedadeAlternativa a partir dos ensinamentos de Crowley. Uma das referênciasmaisclaras ao mago, na discografia de Raul, é a canção “A Lei”, do LP A Pedra do Gênesis (SEIXAS, 1988), tradução do textoLíber Oz, de Crowley, que anuncia a Lei de Thelema.
Thelema é uma palavragregaque significa vontade. Para os thelemitas (seguidores da Lei de Thelema, dentre os quais podemos incluir Raulzito), a suamáxima, longe de serapenasumbordão, consiste na fórmulamágica do Novo Aeon, a novaeraque os jovens tentavam materializaremcomunidadesalternativas e pelaqualtanto ansiavam.
Cada Aeon (grandeperíodoespiritual) é caracterizadopor uma fórmulamágicaque consistiria no enunciado de como os fatos e as teorias cosmológicas são percebidos, podendo tomar a forma de axiomasouconjuntos de símbolosque aumentariam a capacidade dos indivíduos de perceberem a simesmos e ao universo.
Na década de 1970, aformação de grupos e ordens iniciáticas, esotéricas, era uma formacomum de reunirpessoascomidéias transgressoras. Nesse contexto, Raul Seixas se apropriou da idéia do Novo Aeon apresentada por Aleister Crowley paraformular o seupróprioprojeto de uma SociedadeAlternativa.
Raul Seixas, coerentecom a fórmula do Novo Aeon, foi umpoeta da liberdadeirrestrita e da vontadecomomáximasoberana, além de defensor do uso de sexo e drogasparafinsmágicos. Foi partidário de umindividualismoextremista, apregoando a autonomiaindividual na busca da liberdade e na satisfação das inclinaçõesnaturais, emdetrimento da hegemonia da coletividade massificada e despersonalizada. Suaarte condena todas as formas de poder e autoridadeque restrinjam a soberania e a liberdade absolutas do indivíduo.
A Lei de Thelema emerge da crença na inutilidade das lutas no campo político-institucional, pois redundariam sempreem alguma forma de opressão ao indivíduo. A transformação socialviávelpararesolver os problemas do homemdentro da sociedadesópoderiaser alcançada na medidaemquecadaum pensasse e agisse porsipróprio, emergindo das massas, suprimindo todas as formas de autoridade estabelecidas, tendo emvista a realização dos desejosindividuais.
Atento às tensõespolíticas e socioculturais de seutempo, umesperançosocompositor oferecia ao público a promessa de superação do sofrimento impostopelasociedadeautoritária. Mas uma propostapolíticaconcreta estava ausente, vistoquesuautopiaindividualista se sobrepõe a tudo, mesmoque ironicamente.
Quer a SociedadeAlternativa venha ounão a se realizar, a obra de Raul Seixas permanece importanteporsuaforçaimaginativa, utópica, porsuaexpressão e percepção das (im)possibilidades que permeiam a vidacontemporânea. Esse é o seulegadopara as geraçõesque se seguem, conforme o própriocompositor afirmou na canção-testamento “Geração da Luz”.
Parasabermaissobre a filosofia de Raul Seixas, conhecendo os problemaspolíticos, existenciais e socioculturais que marcaram seutempo, num questionamento das conexõesentreprodução cultural e vidasocial, detectando, ampliando e registrando algunsproblemas do nossopaís, leia o meulivroNovo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seutempo, recentemente publicado pelaEditoraMultifoco, do Rio de Janeiro.
Resultado da minhapesquisa de mestradoemEstudosLiterários, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES, a obra aborda a concepção de Novo Aeon apresentada por Raul Seixas emsuasmúsicas. Reunindo letras, entrevistas e outrostextosavulsos do artista, o livroajuda a compreender a música de Raulzito à luz da multiplicidade de problemasque formam a experiência cultural brasileira. Através de minhainterpretação e o entrelaçamento de discussõescomteóricosfundamentaispara a compreensão do tema, apresento uma análise das questõesque animaram as décadas de 1970 e 80: autoritarismo, censura, desbunde, contracultura, ocultismo, indústria cultural, melancolia e niilismo.
Leia
Vitor Cei Santos
“Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seutempo”
Todo Raulseixista que se preze conhece quase todas as músicas de Raul Seixas como a palma da mão, porém nem todos sabem da influência de filósofos, cientistas políticos e religiosos nas letras do Raulzito. Raul apesar de quando jovem ser um aluno relapso, era um leitor voraz e chegou a começar uma faculdade de Direito mas abandonou para se dedicar à música. E ao decorrer de sua carreira, em suas composições, ele utilizou-se de vários pensadores.
Nas suas músicas há uma forte influência do escritor inglês Colin Wilson, que era um "Outsider"(não achei uma tradução literal), que é alguém que vê o mundo de uma forma diferente e tem o dom de observar coisas que os cidadãos comuns não enxergam e esse é o caso de Raul.
Vê-se também a influência do anarquista Proudhon principalmente na música "O Carimbador Maluco", quando ele diz "tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado...", uma crítica descarado ao governo e a burocracia e assemelha-se com Proudhon que diz "Ser governado é ser a cada operação... notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, autrizado, rotulado". Alguns ignorantes criticaram Raul, dizendo que ele tinha se vendido ao sistema (essa música foi feita para o Especial "Pluct Plact Zumm" da Rede Globo), sem perceber a crítica expressa na música.
Na música "Cowboy Fora da Lei" ele faz referência a iconoclastia( doutrina que se opõe ao culto de ícones religiosos) quando ele diz "...ó coitado, foi tão cedo, deus me livre eu tenho medo, morrer dependurado numa cruz...", além de criticar o sistemas e mostrar o peso de ser um ícone.
O filósofo mais recorrente no trabalho de Raul Seixas com certeza foi o pessimista alemão Arthur Schopenhauer, que foi responsável pela metamorfose do Raulzito. Ainda com "Os Panteras" em 68, Raul compôs a música "Trem 103", onde citou Schopenhauer "...conciente de voltar por onde vim..." e o trem passou a ser recorrente em seu trabalho (Trem das 7, A hora do trem passar, e num trecho de Carpinteiro do Universo). A música "Mosca na Sopa" também é inspirada no filosofo "...Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa." E a citação mais forte é na música "Nuit" quando ele diz "...Quão longa é a noite do tempo sem limites, comparada ao curto sonho da vida."
Outro pensador muito importante para Raul é o ocultista inglês Aleister Crowley, do qual ele se apropiou do pensamento para criar a "Sociedade Alternativa". Em várias músicas como "Sociedade Alternativa", "Loteria da Babilônia", "A Lei", onde ele mostra esse pensamento místco-liberal extraído dos livros "O Livro das Leis" e "O Mundo como Representação e Vontade", de Crowley e Schopenhauer respectivamente.
Raul ainda mostra referências do hinduísmo como na música "Gita", além de trechos da Bíblia e citações católicas em músicas como "A Maçã", "Judas" e "Ave Maria da Rua". A literaura de Miguel de Cervantes aparece na música "Prelúdio" com referência ao livro "Dom Quijote de La Mancha", "...Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade."Também, a música "Agua Viva", é uma citação ao trabalho do poeta místico espanhol San Juan de la Cruz. Raulzito ainda usou de outros pensadores, como Sócrates, Platão, Sartre, mostrando sua forte ligação com a filosofia.
Enfim, Raul Seixas nunca foi um cantor qualquer, foi um homem muito culto e mostrou isso em suas músicas. Pra muitos ele foi apenas um louco, porém para aqueles que sabem entende-lo ele foi com toda certeza um dos mais importantes compositores da música brasileira e mundial.