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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Raul Seixas, um pensador: a filosofia oculta do maluco beleza

Você deve conhecer o lado A do cantor e compositor Raul Seixas. O estereótipo criado em torno da figura do baiano gira em torno de chavões como maluco beleza, doidão, anarquista, drogado e afins. Reconhecido como um dos pioneiros da contracultura no Brasil, ele integrou a turma do desbunde, aquela galera que escutava rock, lia os poetas beat, fazia filmes em Super-8, não cortava os cabelos e preferia fumar maconha a pegar em armas. Contra a violência da ditadura militar, curtição e ações pacíficas.


É certo dizer que o estereótipo maior do “maluco belezaque rotula a vida e a obra de Raulzito tem um fundo de verdade. Todavia, os chavões servem para ofuscar certas facetas sensacionais de um artista que se autodeclarou “metamorfose ambulante”. Multifacetado, o artista agiu e pensou livremente, criando e auto-afirmando seus próprios valores, sem jamais se fixar em alguma certeza absoluta. Raul Seixas viveu como um indivíduo descentrado, inconstante, efêmero e transitório, com suas rupturas e descontinuidades. A arte de Raul Seixas, nascida de experiências que brotam da concreta vida cotidiana, é impregnada de ressonância e profundidade místicas que a impelem para além de seu tempo e lugar.




O enaltecimento da metamorfose ambulante, isto é, do indivíduo fragmentado, descentrado, disposto a afirmar sua singularidade contra o rigor de todas as opressões, nos leva ao lado B de Raul Seixas. Em sua discografia, os irracionalismos, as antíteses e os antagonismos extremados ocupam o centro da cena. Ele mistura, em sua obra, diferentes ritmos e estilos musicais, poesia e música, filosofia e astrologia, ocultismo e religião, crítica social e desbunde, tudo regado ao uso de drogas lícitas e ilícitas.

A linguagem de Raul Seixas, imbuída de desbunde, do espírito rebelde, lúdico e libertino dos inconformados de seu tempo, que preferiram a expressão à construção, é formada por um vocabulário polissêmico, simbólico, repleto de figuras de linguagem, metáforas, alegorias, metonímias, regionalismos nordestinos, gírias urbanas e prosopopéias. Inseridas na indústria cultural, suas canções transmitem pensamentos sob forma figurada, disfarçada, muitas vezes ambígua, exigindo que o ouvinte interprete as idéias embutidas figurativamente em seus versos. Com essas características, suas músicas muitas vezes são recusadas por intelectuais e ativistas engajados, enquanto nem sempre são compreensíveis para as massas incultas. E alguns não conhecem o perfil intelectual de Raul Seixas, que foi um homem erudito, leitor voraz dos clássicos da filosofia e da literatura universal.



O escritor e filósofo Raul Seixas eliminou as fronteiras entre as culturas popular, erudita e de massa. Em sua obra encontramos referências implícitas ou explícitas a diversos autores brasileiros ou estrangeiros: Elvis Presley, Bo Diddley, Beatles, Bob Dylan, Jerry Lee Lewis, Luiz Gonzaga, Friedrich Netzsche, Pierre-Joseph Proudhon, Aleister Crowley, dentre muitos outros. Este último, atualmente pouco conhecido pelo grande público, foi um mago, poeta e escritor inglês que despertou muito interesse entre artistas nos anos 1960 e 1970, tornando-se guru da contracultura e do rock.

Exemplar é a capa do álbum Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band (BEATLES, 1967), criação do artista Peter Blake, que reúne imagens de 62 pessoas a quem os Beatles admiravam. Podemos ver o rosto de Aleister Crowley (segundo, da esquerda para direita) na linha de cima, entre o guru hindu Swami Sri Yukteswar Giri e a atriz americana Mae West.


Outros astros do rock compatriotas do mago também prestaram suas homenagens: Jimmy Page, guitarrista do Led Zepellin, teria comprado a Boleskine House, refúgio de Crowley na Escócia, às margens do lago Ness, enquanto o metaleiro Ozzy Osbourne compôs a música “Mr. Crowley” em sua homenagem.


No Brasil, o mais ilustre seguidor do ocultista inglês foi Raul Seixas. Embora o cantor nunca tenha comentado publicamente com clareza e detalhes suas experiências em sociedades iniciáticas, as canções explicitam que ele lançou sua Sociedade Alternativa a partir dos ensinamentos de Crowley. Uma das referências mais claras ao mago, na discografia de Raul, é a canção “A Lei”, do LP A Pedra do Gênesis (SEIXAS, 1988), tradução do texto Líber Oz, de Crowley, que anuncia a Lei de Thelema.

Thelema é uma palavra grega que significa vontade. Para os thelemitas (seguidores da Lei de Thelema, dentre os quais podemos incluir Raulzito), a sua máxima, longe de ser apenas um bordão, consiste na fórmula mágica do Novo Aeon, a nova era que os jovens tentavam materializar em comunidades alternativas e pela qual tanto ansiavam.

Cada Aeon (grande período espiritual) é caracterizado por uma fórmula mágica que consistiria no enunciado de como os fatos e as teorias cosmológicas são percebidos, podendo tomar a forma de axiomas ou conjuntos de símbolos que aumentariam a capacidade dos indivíduos de perceberem a si mesmos e ao universo.


Na década de 1970, a formação de grupos e ordens iniciáticas, esotéricas, era uma forma comum de reunir pessoas com idéias transgressoras. Nesse contexto, Raul Seixas se apropriou da idéia do Novo Aeon apresentada por Aleister Crowley para formular o seu próprio projeto de uma Sociedade Alternativa.

Raul Seixas, coerente com a fórmula do Novo Aeon, foi um poeta da liberdade irrestrita e da vontade como máxima soberana, além de defensor do uso de sexo e drogas para fins mágicos. Foi partidário de um individualismo extremista, apregoando a autonomia individual na busca da liberdade e na satisfação das inclinações naturais, em detrimento da hegemonia da coletividade massificada e despersonalizada. Sua arte condena todas as formas de poder e autoridade que restrinjam a soberania e a liberdade absolutas do indivíduo.


A Lei de Thelema emerge da crença na inutilidade das lutas no campo político-institucional, pois redundariam sempre em alguma forma de opressão ao indivíduo. A transformação social viável para resolver os problemas do homem dentro da sociedade poderia ser alcançada na medida em que cada um pensasse e agisse por si próprio, emergindo das massas, suprimindo todas as formas de autoridade estabelecidas, tendo em vista a realização dos desejos individuais.

Atento às tensões políticas e socioculturais de seu tempo, um esperançoso compositor oferecia ao público a promessa de superação do sofrimento imposto pela sociedade autoritária. Mas uma proposta política concreta estava ausente, visto que sua utopia individualista se sobrepõe a tudo, mesmo que ironicamente.
Quer a Sociedade Alternativa venha ou não a se realizar, a obra de Raul Seixas permanece importante por sua força imaginativa, utópica, por sua expressão e percepção das (im)possibilidades que permeiam a vida contemporânea. Esse é o seu legado para as gerações que se seguem, conforme o próprio compositor afirmou na canção-testamento “Geração da Luz”.





Para saber mais sobre a filosofia de Raul Seixas, conhecendo os problemas políticos, existenciais e socioculturais que marcaram seu tempo, num questionamento das conexões entre produção cultural e vida social, detectando, ampliando e registrando alguns problemas do nosso país, leia o meu livro Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo, recentemente publicado pela Editora Multifoco, do Rio de Janeiro.

Resultado da minha pesquisa de mestrado em Estudos Literários, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES, a obra aborda a concepção de Novo Aeon apresentada por Raul Seixas em suas músicas. Reunindo letras, entrevistas e outros textos avulsos do artista, o livro ajuda a compreender a música de Raulzito à luz da multiplicidade de problemas que formam a experiência cultural brasileira. Através de minha interpretação e o entrelaçamento de discussões com teóricos fundamentais para a compreensão do tema, apresento uma análise das questões que animaram as décadas de 1970 e 80: autoritarismo, censura, desbunde, contracultura, ocultismo, indústria cultural, melancolia e niilismo.

Leia

Vitor Cei Santos
Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo
Editora Multifoco
224 páginas
Preço: R$ 30, em média 
Adquira já na Estante Virtual ou na Editora Multifoco.






segunda-feira, 21 de junho de 2010

Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo

O professor de filosofia Vitor Cei Santos está lançando a obra Novo Aeon: Raul Seixas no torvelinho de seu tempo, pela editora Multifoco, com prefácios de Sérgio da Fonseca Amaral e Wilberth Salgueiro, professores do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES.

Resultado da pesquisa de mestrado do autor, a obra aborda a concepção de Novo Aeon apresentada por Raul Seixas em suas músicas. A doutrina do Novo Aeon, elaborada pelo poeta e mago inglês Aleister Crowley no início do século XX, impulsionou trajetórias existenciais de grande força contestatória, influenciando a contracultura das décadas de 1960 e 1970. Seixas, que acompanhou o movimento e propôs uma Sociedade Alternativa, lançou sua criação midiática à condição de espírito do seu tempo.

Por meio de conceitos teóricos, o livro ajuda a compreender a música de Raul Seixas à luz da multiplicidade de problemas que formam a experiência cultural brasileira. O autor, através de sua interpretação e o entrelaçamento de discussões com teóricos fundamentais para a compreensão do tema, apresenta uma análise das questões que animaram as décadas de 1970 e 80: autoritarismo, censura, desbunde, contracultura, ocultismo, indústria cultural, melancolia e niilismo.

O livro pode ser encomendado com o próprio autor na Estante Virtual. Maiores informações podem ser obtidas no blog torvelinho.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Raul Seixas e a Filosofia

Todo Raulseixista que se preze conhece quase todas as músicas de Raul Seixas como a palma da mão, porém nem todos sabem da influência de filósofos, cientistas políticos e religiosos nas letras do Raulzito. Raul apesar de quando jovem ser um aluno relapso, era um leitor voraz e chegou a começar uma faculdade de Direito mas abandonou para se dedicar à música. E ao decorrer de sua carreira, em suas composições, ele utilizou-se de vários pensadores.

Nas suas músicas há uma forte influência do escritor inglês Colin Wilson, que era um "Outsider"(não achei uma tradução literal), que é alguém que vê o mundo de uma forma diferente e tem o dom de observar coisas que os cidadãos comuns não enxergam e esse é o caso de Raul.

Vê-se também a influência do anarquista Proudhon principalmente na música "O Carimbador Maluco", quando ele diz "tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado...", uma crítica descarado ao governo e a burocracia e assemelha-se com Proudhon que diz "Ser governado é ser a cada operação... notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, autrizado, rotulado". Alguns ignorantes criticaram Raul, dizendo que ele tinha se vendido ao sistema (essa música foi feita para o Especial "Pluct Plact Zumm" da Rede Globo), sem perceber a crítica expressa na música.

Na música "Cowboy Fora da Lei" ele faz referência a iconoclastia( doutrina que se opõe ao culto de ícones religiosos) quando ele diz "...ó coitado, foi tão cedo, deus me livre eu tenho medo, morrer dependurado numa cruz...", além de criticar o sistemas e mostrar o peso de ser um ícone.

O filósofo mais recorrente no trabalho de Raul Seixas com certeza foi o pessimista alemão Arthur Schopenhauer, que foi responsável pela metamorfose do Raulzito. Ainda com "Os Panteras" em 68, Raul compôs a música "Trem 103", onde citou Schopenhauer "...conciente de voltar por onde vim..." e o trem passou a ser recorrente em seu trabalho (Trem das 7, A hora do trem passar, e num trecho de Carpinteiro do Universo). A música "Mosca na Sopa" também é inspirada no filosofo "...Se a mosca, que agora zumbe em torno de mim, morre à noite, e na primavera zumbe outra mosca nascida do seu ovo, isso é em si a mesma coisa." E a citação mais forte é na música "Nuit" quando ele diz "...Quão longa é a noite do tempo sem limites, comparada ao curto sonho da vida."

Outro pensador muito importante para Raul é o ocultista inglês Aleister Crowley, do qual ele se apropiou do pensamento para criar a "Sociedade Alternativa". Em várias músicas como "Sociedade Alternativa", "Loteria da Babilônia", "A Lei", onde ele mostra esse pensamento místco-liberal extraído dos livros "O Livro das Leis" e "O Mundo como Representação e Vontade", de Crowley e Schopenhauer respectivamente.

Raul ainda mostra referências do hinduísmo como na música "Gita", além de trechos da Bíblia e citações católicas em músicas como "A Maçã", "Judas" e "Ave Maria da Rua". A literaura de Miguel de Cervantes aparece na música "Prelúdio" com referência ao livro "Dom Quijote de La Mancha", "...Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade."Também, a música "Agua Viva", é uma citação ao trabalho do poeta místico espanhol San Juan de la Cruz. Raulzito ainda usou de outros pensadores, como Sócrates, Platão, Sartre, mostrando sua forte ligação com a filosofia.

Enfim, Raul Seixas nunca foi um cantor qualquer, foi um homem muito culto e mostrou isso em suas músicas. Pra muitos ele foi apenas um louco, porém para aqueles que sabem entende-lo ele foi com toda certeza um dos mais importantes compositores da música brasileira e mundial.